Mark Cerny revela como era trabalhar na Sega nos anos 80

Mark Cerny revela como era trabalhar na Sega nos anos 80

4 minutos 05/12/2025

Mark Cerny diz que trabalhar na SEGA nos anos 80 era difícil. Camarada… difícil era pouco. Aquilo lá era Elden Ring no modo funcionário CLT sem poção de trato.

Se tem alguém que pode falar do submundo corporativo da SEGA nos anos 80, é Mark Cerny, o faceta que mais tarde construiu o PS4 e PS5 e virou o arquiteto-chefe dos sonhos molhados da Sony. Mas, antes de tudo isso, o varão viveu a verdadeira Geração Souls da indústria: trabalhar na SEGA de Tóquio no auge da guerra fria dos videogames contra a Nintendo.

E quando ele fala “fábrica de exploração”, pode crer: não é figura de linguagem. A SEGA daquela idade trabalhava no modo “empresa de tecnologia japonesa anos 80 turbo — versão sem patch”. Era ele, um designer e um artista fazendo um jogo em três meses, dormindo no escritório e sobrevivendo na base de moca, adrenalina e temor do Nakayama furar a porta.

Pra quem acha que crunch nasceu na era moderna dos games, sinto informar: nos anos 80, crunch era cultura, filosofia e mantra corporativo.

Na SEGA, era praticamente esporte olímpico.

A SEGA queria lucrar da Nintendo… na quantidade. Isso mesmo. Quantidade.

O Cerny lembra de uma sabedoria empresarial nível “coach de LinkedIn da Idade da Pedra”: A Nintendo tinha 40 jogos? A SEGA queria fazer 80. Não bons, não polidos — 80. Era tipo uma corrida pra ver quem entupia mais a prateleira da loja.

E enquanto isso, três pobres almas tinham que:

Tudo isso porque Nakayama tinha aquela visão refulgente de “quantidade = qualidade”. Eu vivi essa idade, e posso prometer: o Master System era ótimo, mas às vezes parecia que metade da livraria tinha sido programada durante um apagão.

Cerny basicamente descreveu a SEGA porquê uma startup de garagem que tinha esquecido de ser startup e só ficou com a secção da garagem

Dormir no escritório era normal. Repreensão era normal. Salário inferior era normal. Pressão absurda era normal. Três pessoas fazendo um jogo inteiro era normal.

A única coisa não normal era um funcionário sorrir.

E no meio disso tudo estavam Rieko Kodama, Yuji Naka e o próprio Cerny — uma geração de gênios que moldou metade do que você joga hoje. Eles criaram Phantasy Star, Sonic, Shinobi, Alex Kidd… tudo em um envolvente que parecia mais um reality show de sobrevivência.

E, mesmo assim, saiu Sonic the Hedgehog. Sério, a existência de Sonic 1, daquele jeito, entregue em 1991, é prova científica de que milagres existem.

O Sonic quebrou tudo… inclusive o orçamento e a paciência do Nakayama

Olha a matemática linda que o Cerny relembra: Projecto original do Sonic:

Entrega real:

  • 4 pessoas e meia

  • 14 meses

O resultado? O jogo que salvou a SEGA no mundo inteiro.

A reação da empresa? Bronca. Repreensão. E Yuji Naka indo embora.

Se isso não descreve a indústria dos games até hoje, eu não sei o que descreve.

Ah, pormenor: Naka ganhava 30 milénio dólares por ano. Quando Sonic explodiu e vendeu mais do que chuva no deserto, ele recebeu um bônus extra que dobrou o valor. Permitido, né?

A SEGA repreendeu o faceta e depois dobrou o salário. Era assim mesmo: caos, incoerência e genialidade. Uma empresa que funcionava apesar dela mesma.

O mais contraditório é que era uma idade dourada e ninguém percebia

Quando Cerny conta que sua sala de 40 pessoas em 1987 tinha:

  • Rieko Kodama (Phantasy Star, Skies of Arcadia),

  • Yuji Naka,

  • Mark Cerny,

  • e mais meia dúzia de lendas vivas,

É impossível não rir. Era literalmente a Seleção Brasileira de 1970, mas ganhando salário mínimo e dormindo na mesa de trabalho.

Aquela SEGA era caótica, emocionalmente instável, mal administrada e movida por puro incêndio criativo.
E ainda assim… deu ao mundo algumas das maiores franquias de todos os tempos.

No término das contas… os anos 80 foram um inferno. Mas foram um inferno mágico.

Cerny saiu em 1991 pra trabalhar em Sonic 2 nos EUA. E dali em diante virou a mito que conhecemos. Mas ouvir ele descrevendo a SEGA porquê “fábrica de exploração” não surpreende ninguém que viveu aquela era de perto:

A SEGA era caos.
A SEGA era geniais improvisando.
A SEGA era uma bagunça deliciosa que só funcionava porque as pessoas eram talentosas demais.

E quer saber? Aquela SEGA nunca mais vai subsistir. Pro muito e pro mal. Mas que saudade daquela insanidade criativa… Ah, isso dá.

Término do expediente. RumbleTech desligando o Mega Drive e indo tomar um moca igual os devs faziam em 1988 — mas sem dormir no escritório.

Fonte

Conteúdos que podem te interessar...