Mega Drive no Brasil: 35 anos depois ainda sopramos cartucho

Mega Drive no Brasil: 35 anos depois ainda sopramos cartucho

5 minutos 02/10/2025

Mega Drive no Brasil: 35 anos depois e eu ainda sinto o cheiro de cartucho queimado!

O console da Sega virou paixão vernáculo com a Tectoy, dividiu amizades nos anos 90 e me ensinou que zero une mais as pessoas do que soprar cartucho em grupo.

Você sabe que já tá ficando velho quando lê “35 anos do Mega Drive no Brasil” e sente uma fisgada na lombar. Eu lembro porquê se fosse ontem: final dos anos 80, eu ainda usando bermuda jeans rasgada (porque voga e pobreza se confundiam muito naquela estação), e de repente chega a notícia de que a Sega, aquela mesma que me fez perder a audição jogando Hang-On em fliperama, ia lançar um tal de Mega Drive por cá.

Mas calma, não era só trazer o videogame e jogar na prateleira. Não, senhor. Foi a Tectoy, essa entidade mística brasileira, que pegou o console e transformou num pedaço de cultura vernáculo.

O Mega Drive e a vida na quebrada

Quando o Mega Drive chegou oficialmente em 1990, parecia que a TV tinha virado porta de ingresso pro horizonte. Lembre-se: a gente tava viciado a ver programa da Xuxa em tubo 14 polegadas. De repente, lá estava o Sonic, correndo a 200 km/h, parecendo que ia terçar a tela e transpor correndo no galeria da sua vivenda.

E evidente, o Mega Drive era o console radical. O slogan era basicamente: “Nintendo é pra moço, Sega é pros adolescentes revoltados com camiseta do Guns N’ Roses”. E olha, funcionava.

Enquanto o Super Nintendo vinha com Mario fofinho e Link arrumadinho, o Mega te jogava Mortal Kombat com sangue escorrendo, Streets of Rage com música techno e pancadaria, e Golden Axe, onde você basicamente batia em homúnculo por poção mágica. Era violência, era atitude, era rock’n roll em forma de 16 bits.

A guerra dos consoles: meu bairro foi palco de guerra fria

Nos anos 90, ser proprietário de Mega Drive ou Super Nintendo era basicamente escolher partido político. Tinha moleque que parava de falar com você porque você falava que o Sonic era mais rápido que o Mario.

Na minha rua, o Flavinho era o “legado” da Nintendo. Ele tinha um Super Nintendo com Super Mario World, e toda vez que me zoava dizia: “pelo menos meu console tem cor no cabo AV”. Aí eu, com meu Mega ligado na ingresso RF da TV Philco da minha mãe, respondia: “mas o meu tem Mortal Kombat com sangue, otário!”. Era mal a diplomacia funcionava em 1994.

E as locadoras? Meu Deus, aquilo era campo de guerra. Você entrava e via a estante dividida no meio: cartuchos vermelhos e pretos da Tectoy de um lado, caixas coloridas da Nintendo do outro. Se você alugasse incorrecto, já saía taxado no bairro: “ih, olha lá o rostro que joga Donkey Kong, maricas”.

Tectoy, a madrinha do gamer BR

A Tectoy não só trouxe o Mega Drive, mas abrasileirou o bagulho. Teve manual em português, jogo apropriado pra nossa veras e até cartucho da Turma da Mônica na Terreno dos Monstros, que era basicamente Wonder Boy dissimulado.

E o clássico: Show do Milhão no Mega Drive. Quem viveu, viveu. Quem não viveu, nunca vai saber a emoção de errar uma pergunta sobre capital de estado e ouvir o Silvio Santos digitalizado perguntando: “Você está claro disso?”.

E ainda teve Chapolin vs. Drácula e até Duke Nukem 3D no Mega Drive em 1998 (!). Isso era a Tectoy dizendo: “quem disse que console velho não serve mais? Segura minha fita, irmão”.

Os clássicos que moldaram caráter

Mega Drive foi onde aprendi lições de vida:

Sonic the Hedgehog: nunca confie em médico chamado Robotnik.

Streets of Rage: resolver problemas na base do soco é plausível quando a trilha sonora é boa.

Golden Axe: anões são traiçoeiros, mas sempre carregam poção.

FIFA International Soccer: se você não quebrar o controle na mesa depois de tomar gol de bug, você não é brasílio.

Mortal Kombat: sangue do dedo une mais que churrasco de domingo.

E evidente, os shoot ‘em ups. Quem nunca ficou até 3 da manhã jogando Thunder Force IV, achando que tava num cockpit de caça, não sabe o que é viver de verdade.

As gambiarras gamer dos anos 80/90

Eu preciso perfurar o coração cá: não era só jogar. Era viver de gambiarra.

Cartucho não pegava? Sopra até quase perder a consciência.

TV só tinha ingresso de antena? Você ligava o Mega no RF, e ficava girando a sintonia até chegar uma imagem menos embaçada que uma foto Polaroid molhada.

Controle quebrava? Você amarrava fita isolante no fio e torcia pra funcionar.

E quando o vizinho comprava jogo importado, era mais fácil conseguir ver o Halley’s Comet de novo do que ele emprestar.

Mega Drive, trilha sonora dos anos 90

Se você fechar os olhos agora, ainda consegue ouvir:

A música da período 1 de Sonic 1 (Green Hill Zone).

O techno de Streets of Rage que parecia transpor direto de um dança de garagem.

A orifício do Mortal Kombat berrando “SEGA” no início.

Aliás, esse “SEGA” berrado era o verdadeiro Dolby Atmos dos anos 90.

O legado que não morre

Enquanto nos EUA e Japão o Mega morreu nos anos 90, cá no Brasil ele sobreviveu mais que romance da Mundo. A Tectoy relançou o console em versões compactas, em versões de mesa, em versões que já vinham com jogo na memória… Teve até Mega Drive 2017, que era tipo o remake de filme cult: meio bugado, mas só de ver já batia a nostalgia.

Hoje em dia a Tectoy tá vendendo portátil chinês renomeado, mas na nossa memória ela sempre será a madrinha do Mega.

O Rumble dos anos 80 manda a real

Eu vivi os anos 80 e 90 jogando Mega Drive com companheiro sentado no pavimento da sala, dividindo controle engordurado de Fandangos e brigando porque ele sempre pegava o Axel no Streets of Rage.

E olha, 35 anos depois, ainda me pego pensando: o Mega Drive não era só um videogame. Era uma período da vida. Era a estação em que a gente acreditava que um cartucho podia mudar a semana inteira.

Hoje, com PS5, PC Master Race e 8K, a gente ainda sente falta de soprar cartucho e ouvir aquele “SEGA” gritado que parecia te despertar melhor que moca.

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